sábado, 3 de junho de 2017

A primavera em mim ou sobre con-fiar

Fotografia: #moniquefranco, Basel, primavera de 2016, a florir para mim
inverto 
lógica dos fatos 
fim vem para o começo 
rego de sonho a semente 
afeto floresce 
enfim 

harmonia impera dizendo  
fica 
tempo acolhe o diverso 
ousadia incita dizendo 
vai 
tempo é curto mas longo é o roçar dos corpos 
a sabedoria perdoa dizendo 
tira 
o manifesto na vã vaidade 
e não deixa vir o nefasto 
tirano fraterno 
ladrão de casaca 

subverto 
a regra suspeita 
e a escrita livre permanece 
mesmo para aquele  
que plagia meu verso 
sim 
confiar é fiar junto 
mas para tanto é preciso ser honesto 

inverto 
trago o fim para o começo 
e o outono será primavera 
pelo menos em mim. 


#moniquefranco,3 de outubro de 2017, outono carioca com o coração em flor 


terça-feira, 16 de maio de 2017

Velhice ou para Mario de Andrade


mais da metade
menos de mim eu sei
mais da metade da idade
do tempo que morrerei
mais da metade do tempo
e há tempos
procuro gostar de mim
aprender com os erros
despertar dos enganos
marcas da vida
rumos sem par
e o lar descoberto
correndo pra cuidar
singelas conquistas
pistas
do que em mim pôde se dar
caso a mim mesma o segredo
possa enfim revelar

mais, mais da metade
filho criado
medo insano sanado
ou pelo menos
posto ao lugar
lugar em que a vida
está a chamar

mais que a metade
quase o dobro
e a velhice começa a rondar
e os olhos percorrem as rugas
e o brilho vai pra outro lugar
e os entes me levam ao tombo
quando me escondo
eles vem desvelar
a frágil menina ainda teima 
e se põe a orar
pra um deus rarefeito
posto que em tudo e em todo o lugar
e na mulher dói no peito
a falta do que não pode dar

que passe o tempo de espera
que a espera não seja sem tempo
que venham as dores no corpo
já que as da alma não hão de sanar
podem sim servir de passagem
estreita, escura passa a iluminar
alargar
as ancas
os lances
quem sabe assim eu cresça
antes de morrer
ou ir pra outro lugar

e fica a pergunta que escuto
nos sonhos ou logo ao acordar
será mesmo que crescemos
ou sempre o mesmo
ou sempre a mesma
iremos ficar
carimbo materno, paterno 
é o que há
e a cada abandono
a nós mesmos buscamos ocultar
seja sorrindo
seja chorando
mais da metade
e eu aqui cada vez mais criança
me ponho a lançar
mão da sorte
e faço da escrita meu sagrado lugar

moniquefranco, 26 de outubro de 2013, querendo crescer

quinta-feira, 4 de maio de 2017

É bom que entendam


#moniquefranco - fotografia 2014

é bom que entendam
escrevo pra quem gosta de ler
encontrar-se na escrita do outro
sem o outro ser

é bom que entendam
as letras correm como sangue nas veias
e alimentam todo o meu ser

é bom que saibam
eu respeito o poema
ele renda
tece o pano
que embala meu sono, sonho e querer

é bom que saibam
não há adágios 
que não me toquem o coração
sou feita das espumas do mar
por isso é difícil me pegar
sou muitas como as estrelas
por isso é difícil me enxergar

é bom que saibam 
muitas vezes voo
quando pareço estar
é uma troca justa
pra quem a si mesma
sabe amar.

#moniquefranco,  lua minguante na janela da casa limpa e flores amarelas de todas as cores

domingo, 23 de abril de 2017

Bonança ou parece mais

#moniquefranco - fotografia, 2015


pena que não nos encontramos antes 
talvez 
até 
não tivéssemos sido tão errantes 
agora 
talvez 
até por isso 
o tempo que temos é o dos navegantes 
bússola certa para todo e qualquer semblante 
que nos traga paz, arte e esperança 

parece que tem mais 
disse a poeta de Minas 
parece que foi ontem 
amor certo que cabe no verso 
nosso hoje não é mesmo futuro distante 

vivemos tempos de desgovernança 
os homens apodrecem na ganância 
mas aqui seguimos assim 
sem arrogância 
sua música 
meus escritos 
e encontramos em meio a tanta guerra 
nossa forma de  bonança. 


#moniquefranco, 23 de abril de 2017, desde 2014 ou entre todos os anos de nós